Pular para o conteúdo principal

Pedras da calçada...

Estou aqui sentado, a noite está fria, um frio que não me é estranho.
Um frio que me acolhe, me aconchega que me deixa embriagado, num mar de sentimentos!!
Sentimentos de um passado recente, de um bando de miúdos desnorteados e embebidos em sonhos de um passado esquecido, um presente ausente e um futuro inseguro.
As pedras da calçada, aí as pedras da calçada, como eu gosto de ouvir as suas histórias, os seus lamentos, as suas alegrias. Muitas delas a transbordar em gargalhadas sentidas, outras vezes lavadas por mares de lágrimas.
Mas...eu gosto de estar aqui longe de tudo e de todos apenas com elas, amigas de uns tempos, confidentes de agora.
Cada uma delas tem um nome, Francisco, Melro, Brálio, Baião, Lena, Cláudia, Teresa, Guida, Toninho, Zeca, Manuela, Belbute...
Nenhuma delas abalou, e apesar do tempo, todas estão iguais com o mesmo sorriso e a ocupar o mesmo espaço, como eu gosto das abraçar com o olhar.
Um olhar de saudade, de desejo, de tempo que nunca mais volta.
Estão todos aqui e estão todos longe, à  distancia de um toque de um chamamento, de um grito de revolta, por o tempo ter criado esta cortina que me impede de sentir o seu cheiro, de ouvir as suas gargalhadas, de corrermos todos num turbilhão de olhares...
A noite está cada vez mais fria, e sem dó tenta rasgar esta manta de retalhos cozida por lembranças em que todos têm vontade de se aconchegar, mas estão todos tão perdidos, que um simples toque de reunir não seria suficiente para os juntar.
As ruas, as esquinas, onde tantas vezes escrevi o nome de quem derrubava as portas do meu coração. Os portões, os velhos portões, que serviam de balizas, teimam em não cair apesar das poucas ripas. Os velhos continuam velhos, e os pequenos estão crescidos. Como me lembro das birras do Carlitos, das vezes que adormeceu ao meu colo...
As vidas mudaram, as distancias aumentaram, as amizades essas foram passando a lembranças, a esquecimentos!!!!
Sinto saudades, sinto um vazio tremendo, cada vez que me lembro do sorriso da Fatinha, do olhar da Ana, do olhar por detrás das lentes da Paula Candeias, eram tantos os e as pequenas traquinas, que moravam na travessa das Morenas, na Rua das Fontes, no meu Beco da Casa Santa... tantas recordações, tantas, tantas...eu gostava de ti, tu gostavas dela, ela gostava dele e ....
Sempre vivemos rodeados por um mar de gente boa, gente com historia, pessoas com que ainda troco algumas palavras, pessoas que agora se vêm sozinhas e despojadas, de tudo aquilo a que foram habituadas, gritos e choros de crianças, agora são as minhas amigas e fieis seguidoras algumas a viver a quarta infância, os filhos...esses tal como eu partiram em busca de uma vida melhor, longe dos braços que os aconchegaram durante anos e anos.
Sinto as suas lágrimas no som das teclas e o sofrimento nas poucas palavras que escrevem. Fico feliz por escreverem, é sinal que ainda estão ai do outro lado!!!!
Vou partir novamente, adeus pedras da calçada, até um dia, até uma noite!!!!


Ramgi Brito
#ramgi

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sozinha!!!!

Apesar da noite estar quente, eu sentia o corpo a tremer com frio. Ao longe as ondas do mar dançam a sua própria melodia. Dançar como eu adoro dançar mas...tudo em mim parece preso, desgastado. O meu coração deambula dentro de mim, sem encontrar caminho nem alguém, que o faça bater ao mesmo ritmo. Não gosto destas acelerações que as paixonetas lhe dão, num momento tenho o mundo, no outro o vazio! Não gosto de estar só, quando tenho um coração do tamanho do mundo, cheio de tudo e de nada. A vida está a passar por mim e eu não quero isso, quero ser eu a passar por ela. Quero ser eu a comandar o meu destino, quero ser eu a agarrar os remos, quero ser eu a convidar quem eu quero, para entrar no meu barco. Não gosto de usar muita roupa, sou obrigada pelo meu corpo tremulo e descoordenado.Dou por mim a dançar, os meus braços estão livres o meu cabelo envolve os meus ombros, sinto a tua presença, sinto o teu cheiro, oiço o teu sorriso alegre e feliz, sinto as tuas mãos a envolver as minh...

Pequenas asas

Existem olhos que não vêm mas choram, tal como existem caminhadas de um só lugar. Tens o coração magoado e guardas essa dor só para ti, guardas as palavras, guardas os suspiros, os pensamentos ficam fechados no teu casulo! Tens vontade de gritar, mas falas baixinho, tens vontade de explodir, e apenas libertas um sorriso. A tua dor pode ser infinita, como tudo aquilo que podes alcançar, mas arranjas sempre um canto dentro de ti, onde ela possa adormecer, como adormecidos estão os teus sentidos. Caminhas sozinho, tu e a tua dor, tu e o teu olhar, tu e apenas tu... Pareces perdido no meio de um oceano de dor, tanta gente a tua volta, tanta palavra, inúmeras histórias, das quais tu apenas és mais uma vírgula. Será que algum dia, alguém vai ouvir os teus gritos, como poderão ouvir se eu grito para dentro, gosto de falar, falo como se não existisse amanhã, falo e deixo sair um sorriso forçado, para me aconchegar perto de quem está bem, como se esse alguém fosse o meu ninho num di...

Coma

Se estivesses 10 anos fora de ti, se vivesses uma vida que não era tua, o que trazias de lá?  Um amor que seria proibido, pois tinhas outra vida, outros sonhos.  Trazias os filhos, que seriam teus e de alguém desse sonho, a tua nova família, a família desse alguém? Só damos conta que vivemos um sonho, quando o pesadelo nos bate a porta, porque será tão difícil voltar de outra vida??? Será mais fácil partir, deixar tudo o que viveste e ficar naquele paraíso tranquilo, sem dramas, sem interrogações, sem nada, será que podemos trocar d e vida, são poucos aqueles que lutam por ficar. Será assim tão bom partir, muitas vezes ficamos a meio da porta, nem saímos, nem entramos, deixamos que nos puxem ou nos empurrem. Vida terrível esta que não vivemos, que não deixamos viver, que nos envolve em pesadelos em olhares desconfiados, em brincadeiras de criança!  Não sei que dor é mais forte a de adormecer ou a de acordar, será que não sou forte o suficiente para decidir, será que estou...